sábado, 16 de fevereiro de 2013

A DOR QUE VEM DA CÁTEDRA

 Está nos evangelhos com impressionante clareza:
Ai de vós, doutores da lei, que sumistes com a chave da Sabedoria; vós mesmos não entrastes, e impedistes os que desejam entrar. (Lc 11, 52)
Então falou Jesus à multidão, e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus. Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los; e fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, e amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas, e as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi. ( Mt 23,1-7)
E, ensinando-os, dizia-lhes: Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes compridas, e das saudações nas praças, e das primeiras cadeiras nas sinagogas, e dos primeiros assentos nas ceias; devoram as casas das viúvas, e isso com pretexto de largas orações. Estes receberão mais grave condenação. ( Mc 12, 38-40)
O texto é contundente. Atingia os fariseus e saduceus daqueles dias, atinge papas, bispos, fundadores de igrejas, pregadores, doutores e todos aqueles que anunciam a Palavra e lideram o povo de Deus.. Quem deveria ensinar e dar exemplo às vezes é quem mais transgride. Se houve os santos e mártires houve também os incoerentes, carreiristas e até assassinos.
A história de alguns papas, cardeais, bispos, sacerdotes, diáconos, presbíteros, apóstolos e leigos, católicos, evangélicos pentecostais não é narrativa agradável de se lembrar. Também a de alguns rabinos, imãs e mulás associados com a violência de fundo religioso. Não admira que muitos escritores ocultem as mazelas da própria religião ou igreja e destaquem as das outras. É arriscado apontar para os telhados de vidro de outros religiosos quando todas as religiões os têm. A verdade é que se em todas elas há histórias confortantes de santos e mártires que deram a vida pelo povo e por sua fé, há também os outros.
Está nos anais, nos livros que eles mesmos escreveram e nos testemunhos insuspeitos de sua própria geração. Hoje está nos jornais, nos vídeos, nos depoimentos colhidos pelas próprias igrejas. Violência, sedução do poder, alianças espúrias, mentiras, corrupção, pedofilia, gravidez, filhos ilegítimos, até mesmo crimes e massacres perpetrados ou incentivados por autoridades religiosas do judaísmo, do cristianismo, do islamismo, no passado e até mesmo no presente.
São tristes fatos que parecem dar razão aos ateus. Mas estes também têm histórias tristes de ditaduras, de nazismos e comunismos que em nome da ideologia massacraram ainda mais gente do que os religiosos. Esquerdistas e direitistas ateus não criaram nem exportaram santidade. O mundo não ficou mais humano por causa deles que gostam de lembrar os desmandos dos religiosos…
Quando, pois, alguém nos fala de papas que usurparam o trono pontifício, e de meninos eleitos papas, do filho ilegítimo de um papa que o sucedeu, de papas decapitados e massacrados, de bons e maus igualmente torturados em nome do poder e da fé; quando se lêem livros cheios de ódio escritos por fundadores de igrejas; quando se sabe da manipulação inescrupulosa do dinheiro dos fiéis, e quando finalmente se põem a descoberto os erros que vieram da cátedra e do púlpito, a quem crê em Deus não resta senão pedir desculpas por ontem e por hoje. Uma coisa é anunciar o evangelho e outra é vivê-lo.
Há entregadores de pizza que não comem pizza! Não é seu prato preferido. Há pregadores que não provam da própria pregação. Sabem de cor o que devem dizer e falam bonito, mas não acreditam no que dizem, nem vivem o que pregam. Era disso que Jesus falava em Mateus 23,1-7
Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais como eles, porque dizem e não fazem.
A coerência de vida é um postulado da pregação, mas nem sempre é vivida. Falar e cantar bonito, fingir que crê, orar com emoção, arrecadar para o Senhor e depois gastar demais consigo mesmo, viver no luxo em nome da fé, construir palácios como faziam alguns lideres religiosos do passado remoto e fazem alguns hoje, ostentar riqueza em nome do evangelho são algumas das incoerências que atravessaram séculos, desde Gedeão e Salomão até não poucos pregadores de hoje.
É dor que vem da cátedra. Os fiéis não sabem explicar o que aparece nos jornais. Pode ser mentira e pode ser verdade. Mas quando está visível e documentado, toda uma igreja sofre com o comportamento de seus grandes ou pequenos líderes.
Há um púlpito que se fez cátedra e que dói sobremaneira para todo e qualquer fiel de qualquer religião ou igreja. Seu líder escreveu aquele livro que tem ódio! Seu líder está envolvido em corrupção e há provas contundentes. Seu fundador teve quatro casamentos. Seu líder vive no luxo. Seu líder fala, mas não vive o que fala!
Nós que pregamos, sabemos de nossas incoerências. Somente nós podemos dizer se é calúnia ou não é. Nós e Deus. Ele vê, Ele viu, Ele sabe! É o caso de orarmos com todas as igrejas para que o Senhor proteja e guarde os que ele chamou para que não se afastem da simplicidade e da humildade e que não se vejam aprisionados pela fama, pelo poder e pela riqueza e, o que é pior, usando os textos da Bíblia para explicar seus atos, seu gosto pelo conforto e sua enorme conta no banco! Serve para os outros, mas serve principalmente para nós. É o caso de ouvir Jesus a nos desafiar que atire a primeira pedra quem acha que não tem ou não terá pecado! (Jô 8,7)
De todos os que precisam de oração e de constante conversão os primeiros são os pregadores.
Padre Zezinho, scj
http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/archives/7983